sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Tempo

Muitos relacionamentos chegam em um momento chave, onde há geralmente dois caminhos a seguir. Ou ficam juntos, mas sem aquela mesma paixão, aquela admiração mútua que existia no início do relacionamento, antes de conhecerem os defeitos um do outro, sujeitos a brigas e mais brigas, até que reentendam. Ou então decidem acabar, mesmo ainda existindo amor. E esse rompimento é muito dolorido.

Existe também uma terceira via, que é um meio termo, mas que geralmente antecede o segundo caminho: dar um tempo. O que significa dar um tempo? Significa afastar-se, evitar se ver, evitar falar sobre, evitar contato, mesmo a distância. Às vezes esse afastamento ajuda a curar feridas, ajuda a amadurecer e compreender mais um ao outro.

Por isso decidi que é hora de dar um tempo, Flamengo. Antes que nos machuquemos mais. Não dá pra seguir assim, por mais amor que exista entre nós. Quero que tenhamos muitos anos juntos ainda, por isso mesmo estou me afastando. Para não cobrar além do que você está preparado ou maduro para dar. Para não ser injusta. Para não sofrer esperando mais do que é possível você oferecer hoje.

Nos encontraremos ano que vem, com a esperança de haver mais maturidade, maior disposição a entender um ao outro, maior possibilidade de juntos comemorarmos conquistas de verdade.

Te amo muito. Sempre te amarei. Até morrer.

"O tempo não só cura, mas também reconcilia." Victor Hugo (O outro)

terça-feira, 27 de junho de 2017

E se o Flamengo cumprisse a Lei da Meia Entrada?

Não tem como passar batido pelo tema do preço dos ingressos. A percepção é de que o preço está abusivamente alto, incompatível com o que se deve pagar para assistir um jogo em um estádio temporário, distante da maior parte dos torcedores e que tem dificuldades de acesso. E ainda por cima aguentar Márcio Araújo em campo!

O resultado é que temos um estádio de cerca de 20 mil pessoas não enche. Um Flamengo não enche um estádio para 20 mil! E nem tem como encher, dessa forma. Veja a tabela de preço dos ingressos para o jogo contra o São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro:
Setor Norte
Público Geral - R$ 200 (meia R$ 100)
Sócios Tradição - R$ 150 (meia R$ 75)
Sócios Demais Planos - R$ 100 (meia R$ 50) 
Setores Sul e Leste
Público Geral - R$ 280 (meia R$ 140)
Sócios Tradição - R$ 210 (meia R$ 105)
Sócios Demais Planos - R$ 140 (meia R$ 70) 
Setor Oeste
Público Geral - R$ 360 (meia R$ 180)
Sócio Tradição - R$ 270 (meia R$ 135)
Sócio Demais Planos - R$ 180 (meia R$ 90) 
Visitantes
R$ 200 (meia R$ 100)
A diretoria afirma que o preço é alto por conta das meias e gratuidades. Que na verdade, esses preços são fictícios. E é a mais plena verdade. No jogo contra a Chapecoense, por exemplo, somente 1% dos torcedores pagou o preço cheio, segundo o Borderô. Um porcento! Mas aí entra a questão da percepção. Entre o valor real e o valor divulgado há uma diferença absurda. E que poderia ser alterada caso o Flamengo fizesse valer a lei da meia entrada, que limita a apenas 40% dos ingressos.

Juntando dinheiro para comprar meu ingresso na Ilha do Urubu
Hoje, supondo o pior caso, que seria a que todos os compradores pagassem meia entrada e que todos fossem Sócios Torcedores (exceto visitantes, logicamente), caso o Flamengo vendesse todos os ingressos arrecadaria R$ 1.123.606,00. Veja o cálculo:

Setor Lugares Preço da meia pra ST Total
Oeste 4990 R$ 90 R$ 449.100,00
Visitantes 2001 R$ 100 R$ 200.100,00
Norte 2914 (1500 gratuidades) R$ 50 R$ 145.700,00
Sul 2121 R$ 70 R$ 148.470,00
Leste 6437 R$ 70 R$ 180.236,00

Total geral: R$ 1.123.606,00
Tíquete médio: R$ 60,85

Agora vou fazer o seguinte cálculo: E se o Flamengo cobrasse 50% dessa mesma tabela de valores, porém limitando a meia a 40% para cada setor? Quer dizer, o Flamengo botaria a venda, mas quando acabar, acabou, mesmo tendo carteirinha, não seria mais possível comprar meia. Entendido?

Também vou considerar a mesma pior hipótese, que seria que os ingressos fossem comprados totalmente dos sócios torcedores e descontando as 1500 gratuidades do setor norte. Também aumentei o valor do ingresso para visitantes, porque por princípio eles nunca devem pagar menos ou igual a um torcedor do Flamengo, sócio ou não.

Setor Lugares Inteira Preço da inteira pra ST Total
Oeste 2994 R$ 90 R$ 269.460,00
Visitantes 1201 R$ 120 R$ 144.120,00
Norte 1148 R$ 50 R$ 57.400,00
Sul 1273 R$ 70 R$ 89.082,00
Leste 3862 R$ 70 R$ 270.354,00

Setor Lugares Meia Preço da meia pra ST Total
Oeste 1996 R$ 45 R$ 89.820,00
Visitantes 800 R$ 60 R$ 48.000,00
Norte 1766 R$ 25 R$ 29.140,00
Sul 848 R$ 35 R$ 29.694,00
Leste 2575 R$ 35 R$ 90.118,00

Total geral: R$ R$ 1.117.164,00
Tíquete médio: R$ 60,51

Perceba: O preço mais caro que um Sócio Torcedor pagará de ingresso será de R$ 90, não mais de R$ 180. O preço mais barato que um sócio torcedor vai pagar será de R$ 25, não mais R$ 50. E perceba que o tíquete médio permanecerá praticamente o mesmo.

A percepção geral é de preço será muito mais barato. O torcedor se motivará a ir ao estádio. E mesmo pagando o valor inteiro ele não se sentirá prejudicado, já que estará pagando o mesmo valor da meia do ingresso mais caro. Tudo questão de matemática.

Vamos às perguntas:

Dá para fazer isso sem gerar fila na entrada para conferir a carteirinha? Dá, existe tecnologia para isso. Minha sugestão: usar o próprio cadastro do ST para armazenar as informações de carteira de estudante. O ST poderia fazer tirar uma foto do QRCode e o sistema validaria junto as entidades responsáveis (veja a imagem no final do post). Uma vez validada, o torcedor estaria apto para comprar um dos ingressos disponíveis para meia. Quando a carteira perdesse a validade, o torcedor teria que submeter o QRCode da nova carteirinha.

Implementar essa solução será rápido e barato? Depende da empresa que desenvolve o sistema, mas é provável que não. Mesmo assim, o custo será muito menor e será muito mais confortável para o torcedor do que fazer a conferência na entrada a cada jogo. A diretoria tem capacidade de fazer esse cálculo de custo melhor do que eu. Mas sempre a opção informatizada sai mais barata no longo prazo que a manual.

E para quem não é Sócio Torcedor? Para quem não é, provavelmente seria muito complicado conseguir comprar uma meia entrada. Infelizmente, não dá para agradar a todos. Porém, seguindo a mesma lógica, o ingresso mais caro para ele passaria a ser a metade do valor, ou seja, R$ 180 na Oeste. E o mais barato seria R$ 100 na Norte. O mesmo preço que ele paga na meia hoje.

Mudanças precisam ser feitas. Vejo muita gente reclamando de preço, torcedores, jornalistas, mas não vejo propostas, só reclamação. Eis aqui uma proposta concreta. Se irão adotar essa ou alguma outra solução é questão de opção do clube. Não pode é se acomodar e achar que é assim e pronto.

Como já falei uma vez no Twitter, vejo a Ilha do Urubu como uma startup. Ela foi feita para experimentar, errar, acertar, aprender, pivotar quando necessário. Agora é bem mais fácil que no dia que tiver um estádio próprio. E tendo um know how e uma estrutura já pronta, ficará muito mais fácil e mais barato gerenciar nossa própria casa no futuro.

PS: Pesquisando, vi que o novo modelo de carteirinhas de estudante possui um QRCode para facilitar a validação. Ela seria bem simples: o usuário tiraria uma foto do QRCode (usando o aplicativo de Sócio Torcedor para celular, por exemplo), que converteria em um link. Esse link seria enviado para um validador da emissora da carteirinha, que retornaria os dados e a validade da carteirinha. O nosso sistema bateria os dados da carteira com o cadastrado na nossa base de dados e pronto. Estaria checado se é ou não estudante. Esse link possui mais detalhes.


quinta-feira, 8 de junho de 2017

É hora de profissionalizar definitivamente o futebol

Nos últimos anos o Flamengo sofreu um choque de gestão que foi capaz de mudar totalmente a cara do clube. Depois de anos de gestões desastrosas, um grupo de torcedores se associaram e se reuniram para consertar o Flamengo. Empresários, executivos, funcionários públicos, autônomos. Pessoas que se doaram ao clube com um trabalho sério e com muito amor.

Durante esse período o Flamengo foi de exemplo de bagunça para modelo de gestão a ser copiado. Muitos setores sofreram uma mudança para melhor, com contratações de profissionais de qualidade que ajudam a fazer a roda girar no dia a dia. Mas ainda existe a figura do VP, que é composta na maior parte dos casos por gente com grande conhecimento na área que administra. Por exemplo: o VP de comunicação tem renomada experiência com comunicação. O VP jurídico possui experiência na área juridica. O VP de Esportes Olímpicos idem. E por aí vai.

Mas e no futebol? No coração do clube, quem fica à frente? Haveria alguém que poderia se dedicar ao comando da pasta de maior cobrança no clube, tendo experiência e conhecimento comprovados de futebol para poder conversar de igual para igual com o diretor de futebol, com empresários, jogadores, outros dirigentes, etc? Que tenha ao mesmo tempo visão gerencial, vendo a interligação do futebol com as outras pastas? Que seja honesto, acima de tudo? Que tenha frieza e deixe o emocional de lado nos momentos de crise, sem tomar medidas pensando no resultado da próxima eleição? Que se dedique quase que exclusivamente a isso, porque o cargo exige isso, e ainda não receba um centavo por isso?

Nesses últimos anos o cargo de VP de futebol é o mais problemático de todos, sem a menor dúvida. Já passaram vários nomes pela pasta, com inclusive um recentemente preso, para nossa vergonha. Várias vezes o presidente assumiu interinamente o posto, sem sucesso, obviamente. Já foi tentado ter um Comitê Gestor, que é a pior solução do mundo. Pior que um amador dando pitado é ter um grupo de amadores dando pitaco. Basta! É hora de acabar com o cargo de VP de futebol. Retirar inclusive do estatuto. É hora de esquecer as vaidades, a sensação de poder que o cargo possui e abdicar de sua existência. É hora de profissionalizar o futebol de ponta a ponta.

Hoje temos uma figura de CEO, ocupada por Fred Luz. Dizem que ele faz papel de VP de futebol, mas que conhecimento ele possui do negócio? Qual exatamente o papel que um CEO possui hoje no Flamengo? Isso não está claro para ninguém.

Minha proposta é:
Os grupos políticos do Flamengo (especialmente o SóFla, do qual faço parte) poderiam lançar a proposta de alteração estatutária eliminando o papel de VP de futebol. Simultaneamente, incluir a figura obrigatória de um CEO que seria um profissional contratado para gerir o futebol. Ele estaria no mesmo nível dos demais VPs hierarquicamente e se reportaria apenas ao Presidente do clube quando necessário. Não sofreria nenhuma interferência de comitê ou VP de outras pastas. Ele teria total autonomia de decisões, sujeitas a limitações orçamentárias. Estabeleceria metas para seus subordinados e as cobraria.

Para isso, é preciso abdicar das vaidades. Ser VP de futebol hoje é cobiçado apenas por quem interesses políticos e quer visibilidade. A partir do momento que o comando ficasse com um profissional, que pensasse apenas no futebol, independente de eleição, de quem é o presidente, a coisa mudaria totalmente de patamar. Um CEO com experiência em futebol e gestão seria o casamento perfeito. Seria a mudança final que faltava no clube para a profissionalização total. E seria mais um legado a deixar para o Flamengo.

Se hoje é preciso ter uma mudança no futebol não é começando de baixo. Será apenas um paliativo. O xis da questão está em cima. É essa que precisa mudar.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Por onde anda o Geraldino?

2017 e voltamos ao clamor de jornalistas por geraldinos. De novo. Toda vida que vejo o assunto vir a tona, passa um monte de coisas na minha cabeça. Vou compartilhar algumas delas aqui, refletir sobre o assunto.

Antes de mais nada, que tal tentar entender o que é Geraldino? Geraldino era como a imprensa chamava popularmente os torcedores que ficavam nas famosas gerais do Maracanã, que existiram até meados da década de 90. Lá era onde as castas mais pobres da sociedade na época assistiam o jogo de futebol em pé, espremidos pela superlotação, alguns à beira de um fosso de mais de 3 metros de profundidade que os separava do campo  praticamente sem visão do jogo, sujeito a levar banhos de saco de xixi arremessados por quem estava na arquibancada, os Arquibaldos, de poder aquisitivo maior. Quem batizou-os com este nome? Nelson Rodrigues, há muito, muito tempo atrás, quando já enxergava o grande desequilíbrio social da época refletido no Maior do Mundo.

Que saudade de ficar assim, né? Só que não.

Em 1995, assim como neste ano, houve uma decisão de carioca entre FlaxFlu (não era final, mas valia o título). Neste jogo a geral esteve aberta, um dos últimos grandes jogos com a sua existência. 22 anos depois, um saudosismo romantizado clama pela volta dos Geraldinos. Mas aonde estão eles? Ainda existem?

Muita coisa mudou em 22 anos. O Brasil mudou muito em termos de desigualdade social, com uma vasta camada de miseráveis subindo de classe social. Vou citar alguns dados para demonstrar essa mudança:

- Em 1995 a renda per capita era equivalente a 3.680 dólares. Em 2015 é de 9.990. Praticamente triplicou.
- A expectativa de vida em 95 era de 67,6 anos. Em 2015 de 74,6.
- Em média as mulheres tinham 2,5 filhos em 1995. 2016 tem 1,8.
- Em 1995, no Índice de Gini (que mede a desigualdade) o valor era de 59,6. Hoje é de 51,5. Ainda alto, mas já foi bem pior.
- Em 1995 chegava a internet no Brasil. Poucos possuíam telefone fixo. Praticamente ninguém tinha celular. TV a Cabo? Só quem era rico. Hoje praticamente todos possuem banda larga. Telefone fixo? Só quem quer, porque temos uma média de mais de um número de celular por pessoa. Não conseguimos mais viver sem internet, nem por um dia sequer. E 18,6 milhões de casas possuem acesso a TV paga (oficialmente, porque suponho que seja bem mais).

Mais uma informação: em 1995 aquele Fla x Flu teve 109.204 pagantes, com renda de R$ 1.621.850,00. Ou seja, o ticket médio foi de R$ 14,85. Este valor corrigido pelo IPCA nos dias atuais equivale a R$ 64,90. O FlaxFlu realizado domingo passado teve tíquete médio de R$ 55,51 (renda de R$ 3.242.130 e 58.399 pagantes). Pasmem: em valores atualizados foi mais barato assistir o gol do Rodinei que o de Renato Gaúcho.

Outro fator que é ignorado pelos jornalistas é o fato de que o Maracanã mudou. Em 1995 ele era sustentado pelo Governo. Ou seja, todo o povo carioca sustentava o gigantesco estádio. Subsidiava-o. Depois da malfadada reforma para a Copa do Mundo, o "Maracanã on Steroids" não poderia mais ser bancado pelo governo, que passou a bola para a iniciativa privada. Ao ser privatizado, sem ter quem o subsidiasse (e com as maracutaias que depois ficamos sabendo), os custos foram repassados para os clubes. E hoje este custo está maior do nunca, com clubes tendo que pagar valores astronômicos para pisar em tal solo (extremamente mal conservado) sagrado. Se baixar o preço do ingresso a conta vai fechar? Me explique como, por favor, com prova dos nove fora como na 6ª série.

Concordo que o ingresso poderia ser mais barato se os custos também fossem, mas não acredito que haveria mudança significativa no perfil da torcida se diminuísse 10, 15 reais no valor do ticket médio. Mesmo que tirassem as cadeiras atrás do gol (que eu também gostaria de ver acontecer), não creio que mudasse muito o perfil do torcedor que vai para o estádio hoje. A coisa vai muito além disso.

A questão é que o Brasil mudou muito em 22 anos. As classes sociais mudaram. A miséria diminuiu, mesmo que nos últimos dois anos as coisas tenham piorado. A nova geração tem mais acesso ao estudo, a ascensão social, a tecnologia. Se há 22 anos o futebol era uma das únicas formas democráticas de entretenimento para os mais pobres, hoje ele concorre com outros tipos de entretenimento: o lançamento em 3D e Imax no cinema, a TV a cabo mostrando o que há de melhor no futebol europeu, os videos na internet, o Netflix. Ele quer qualidade, quer conforto e não vai aceitar ser tratado como gado, como no passado. E se for tratado, vai abrir a boca e reclamar nas redes sociais, com razão.

O Geraldino não vai mais voltar. Nem mesmo que tirem todas as cadeiras do Maracanã e botem ingressos a 5 reais. O mundo mudou, o futebol mudou, as pessoas mudaram. Essa que é a verdade. É melhor se conformar e aceitar que o Geraldino está extinto.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Porque pedir a cabeça de Zé Ricardo é uma estupidez hoje?

Me responda sinceramente: imagina um clube paulista com um técnico jovem, ainda sem um ano completo de experiência no ambiente profissional, mas que tivesse no currículo apenas duas derrotas em jogos oficiais desde 21 de agosto do ano passado para cá: uma para o Internacional, em outubro e outra em março, fora de casa contra o Universidad Católica do Chile, em um jogo onde o time teve o azar de não conseguir transformar em gols o seu domínio. O que a imprensa estaria falando sobre ele? O que VOCÊ acharia dele?

Agora, veja você, esse técnico está no Flamengo. Para azar o dele, quem sabe? Mas o fato é que ele está aqui, em meio a essa coisa louca chamada Flamengo. Onde um desempenho desses é ignorado, onde a mesma torcida que por muito tempo dizia ignorar o carioca hoje pede sua cabeça por conta dele. Esse mesmo campeonato que estamos jogando apenas pelo dinheiro e que está sendo usado como laboratório para várias experiências com reservas, recém promovidos e renegados. Lembra quando foi a última vez que jogamos com o time completo, titular? Faz um tempinho. E ainda assim, com todos esses testes e mudanças ainda estamos invictos. Invictos na porcaria do carioca.

"Ah, mas o time não tá jogando bem. Eu quero que jogue igual o Barcelona!". Quem tá jogando muito bem nesse início de ano? Quem está com o time na ponta dos cascos, dando show em campo? Que técnico hoje no Brasil tem desempenho melhor, consegue fazer seu time jogar melhor sempre? Se eu tô satisfeita com o que vejo? Não, acho que pode melhorar. Acho que temos que ter variação tática, que alguns jogadores podem dar mais (mas também entendo não querer dar muito por algo que não vale nada). Eu confio que esse time ao longo do ano vai encaixar e vai crescer. Basta deixar trabalharem em paz.

Estadual não é critério pra nada. Nem para elogiar nem para criticar. É só ver o que aconteceu com os últimos campeões estaduais. A bela campanha que fazem no brasileiro, salvo uma ou outra exceção. Se a diretoria entrar na pilha da torcida e demitir o Zé Ricardo, que vem fazendo um bom trabalho, vai se arrepender muito depois. Já vimos muitas vezes no que dá esse troca-troca de técnico. E pode deixar cair no colo de um adversário um pedra ainda em estado bruto, mas que está pronta para ser lapidada.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Análise da tabela do Brasileiro de 2017

Ano passado fiz um post sobre as expectativas para o Brasileiro de 2016. Nele calculei a probabilidade de pontos de acordo com o aproveitamento dos últimos 5 anos. Repito a dose para este ano, com uma pequena alteração: Ao invés de pegar os últimos 5 anos, peguei os dados desde 2010, ou seja, os últimos 7 anos (7... sentiu o cheirinho?).

O cálculo é bastante simples. Vejamos o exemplo do confronto contra o Atlético Mineiro, nosso primeiro do campeonato. Foram 7 jogos em casa, onde tivemos 5 vitórias, 1 empate e 1 derrota, totalizando 16 pontos conquistados de 21 possíveis. Ou seja, obtemos em média nesse confronto 2,28 pontos. Essa conta foi feita para cada um dos confrontos, considerando sempre o mando da partida, não o local.

Considerei, arbitrariamente, que cada confronto com menos de 1 ponto de média indica tendência de derrota, simbolizada pela cor vermelha. Cada um que possui entre 1 e menos 2 pontos em média tem tendência a empate, representada pela cor branca. E cada um que possui uma média de 2 ou mais pontos aponta tendência a vitória, usando a cor verde. Eis a tabela:


Algumas conclusões que podemos tirar dela:

1) O primeiro turno tende a ser mais difícil do que o segundo. Temos muitos jogos com retrospecto de empate, que é uma perda preciosa de pontos. Serão especialmente críticas as rodadas 11 a 19, onde não há nenhuma com retrospecto favorável para nós. Nesse período teremos 4 jogos em casa e 5 fora, incluindo dois adversários que (sinto dizer) somos fregueses nos últimos anos: Corinthians fora e Palmeiras em casa.


2) Falando em freguesia, vamos começar com um de nossos maiores fregueses nos últimos 7 anos em casa: O Atlético MG. Dentre os 12 maiores clubes é o confronto em que temos o melhor retrospecto, seguido pelo Cruzeiro também em casa. São dois jogos em que você pode comprar o ingresso já esperando a comemoração no final da partida. Uma ótima forma de começar o campeonato.


3) Somando toda a pontuação média ao longo do campeonato obtivemos um total de 52,4 pontos. É pouco, muito pouco. Isso é porque tivemos nesses 7 anos mais campanhas pífias que louváveis. Para ter uma ideia, nesse período conquistamos em média 53,1 pontos no campeonato, média superada apenas em 2011 e 2016, quando fizemos 61 e 71 pontos, respectivamente.


Ano passado o que fez a diferença no campeonato foram as vitórias em confrontos em que costumeiramente empatávamos: ganhamos 10 de 18 desse tipo. Neste ano temos 17 confrontos com tendência ao empate, sendo 11 deles em casa (Botafogo, Ponte Preta, São Paulo, Grêmio, Coritiba, Atlético PR, Fluminense, Bahia, Vasco, Corinthians, Santos). Se houver a mesma sintonia este ano no Estádio da Lusa quanto teve em Cariacica ano passado, dá para ganharmos pontos importantíssimos na disputa pelo título.

Esse análise baseada em retrospecto logicamente está sujeita a falhas. Mas ajuda a dar uma visão se o time está acima, em média ou abaixo do esperado. Dê uma olhada no gráfico comparativo do esperado x o realizado de 2016 e veremos exatamente quando começamos a nos superar: exatamente na rodada 16, bem antes da estreia do Diego (21ª). E também quando caímos de produção, que foi a partir da 30ª rodada, no jogo contra o Fluminense.


Se você quiser ter uma cópia da tabela e ficar acompanhando a pontuação rodada a rodada, é só baixar uma cópia da planilha. Divirta-se! ;)


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

2017, o ano da colheita


2016 acabou. Ainda restam umas folhas no calendário, temos alguns jogos a disputar, mas para o Flamengo já é o momento de olhar para 2017. É um olhar ao mesmo tempo de ansiedade e expectativa. Pois está se aproximando o momento da colheita.

Passamos 2013, 2014, 2015 e 2016 plantando. Foram muitos esforços, sacrifício, suor escorrendo das testas de quem está no dia a dia do clube, seja como cargo remunerado ou como colaborador. O Flamengo mudou para melhor com a ajuda de muitas mãos. E cada uma teve sua devida importância.

Terminaremos 2016 com as contas equalizadas. Ou seja, o que ganhamos em um ano poderia pagar toda a nossa dívida. Uma relação de aproximadamente um para um. Com isso, as dívidas estão controladas e poderemos começar a usar esse recurso que ia para pagar dívidas para alimentar o próprio Flamengo.

Em dezembro o CT será entregue e isso deve ser motivo de muito orgulho para todos nós. Finalmente teremos nosso Centro de Treinamento, feito com ajuda de tijolinhos, pulseirinhas, doações, patrocínios, permutas e muito sacrifício financeiro. Estrutura hoje é essencial no futebol. Hoje podemos dizer que temos um CT de alta qualidade, um dos melhores do Brasil, senão O MELHOR, com tecnologia de ponta. No Mundo Rubro Negro você pode ver uma matéria especial sobre como está o andamento da obra e como vai ficar.


Contratamos bons jogadores. A qualidade do time aumentou muito com relação aos últimos anos. Depois de sei lá quanto tempo pudemos brigar pelo título de igual pra igual. Não deu desta vez. Pesou muito o sacrifício das viagens durante o ano, fez muita falta ter uma casa. Foi difícil para a torcida e principalmente para os jogadores e comissão técnica. Fica o gostinho de frustração no final, mas eles fizeram o que era possível nas condições apresentadas. Ao fim, temos o melhor aproveitamento desde o início dos pontos corridos.

Então analisemos. Em 2017 teremos então a seguinte combinação: Contas equalizadas + CT de ponta + uma espinha dorsal do time. É muito mais do que tivemos nos últimos 20 anos, pelo menos. Claro que há espaço para melhorar, principalmente com relação ao planejamento. As coisas em 2016 aconteceram meio ao acaso. Continuamos fazendo nossas principais contratações no meio do ano. E a falta de definição de uma casa foi o mais evidente dos erros.

O que eu gostaria de ver o Flamengo fazer a partir de agora, visando um 2017 propício para a colher os frutos de tanto trabalho?


1) Eliminar os elos fracos. Precisamos contratar pontualmente para posições específicas. Não precisaremos trocar meio time como em outros anos. Como serão menos contratações, podemos então prezar pela qualidade. As prioridades número zero e um são primeiro volante e pontas. Já que este é o esquema adotado, então que tenhamos as melhores peças disponíveis no elenco. E emprestar, vender, ceder, não renova com os que não estão aptos para vestir a camisa do Flamengo.

2) Priorizar o título Brasileiro. Temos que ter começar o ano com este foco: Vamos ser campeões brasileiros. E pelo menos no primeiro semestre, a Libertadores deve ter prioridade sobre qualquer outra coisa. Especialmente sobre o carioca, que não serve para nada já há alguns anos.


3) Ter uma casa no Rio de Janeiro. Não importa se no Maracanã, se em um estadio provisório, se fruto de algum acordo. O Flamengo tem que jogar no Rio. Nem torcida nem os jogadores suportarão passar novamente pelo que passou este ano. Seria um erro estratégico e desumano pensar que pode fazer isso de novo. Não, não pode. Programem-se desde já, negociem desde já, busquem uma alternativa viável desde já se não vamos aceitar a pressão de jogar no Maracanã com terceiros administrando. O Botafogo, que tem muito menos poder de fogo (perdão pelo trocadilho) que nós conseguiu viabilizar uma casa temporária. Porque não podemos? Um ou outro jogo poderia ser jogado estrategicamente no Pacaembu, para aumentar nossa influência na terra da garoa. Ou em Cariacica, onde o time gosta de jogar. Mas seriam a exceção, não a regra.

4) Começar a usar mais a base. Não, não tô pedindo pra nenhum garoto ser titular. Não quero que queimem etapas, nem que joguem-nos aos leões. Mas eles precisam ganhar experiência. Tem que jogar, nem que seja uns poucos minutos no segundo tempo de vez em quando. Precisamos estabelecer metas para uso dos garotos pelo treinador, com direito a um gordo bônus se ele alcançar. Já é hora de começar a ver os meninos do Ninho entrando em campo, aos pouquinhos.


5) Manter o Zé. É preciso dar continuidade ao trabalho. Zé Ricardo, até o momento, é o treinador com melhor campanha no Flamengo desde os pontos corridos. Ganhamos vários jogos que costumávamos perder. Ele ainda não está 100% pronto, falta mais experiência. Mas isso ele só consegue com o tempo. Precisamos acabar com a história de trocar um técnico sempre que tem 2, 3 resultados ruins. Quero ver o Flamengo bancando o Zé e investindo em sua formação. Porém desejo também ver ao seu lado pessoas também jovens e com a cabeça aberta para as novidades do futebol, com ânsia de estudar e aprender.

A torcida já espera há muito tempo, pacientemente. Mas não há mais espaço para muitos erros. Ela está com uma sede imensa de títulos e não vai se conformar de passar mais um ano sem ganhar nada, sem disputar pra valer os títulos, em ver jogadores achando bom ser eliminados. Precisamos de um título nacional para coroar a boa administração dos últimos anos. Para que a festa da colheita comece. Condições para isso teremos.